Carma ou “Karma” (tradução do sânscrito) representa, na tradição hinduísta, a lei universal de causa e efeito, em que cada pessoa, por seus pensamentos e ações está constantemente moldando o seu destino. Quaisquer energias que venham a ser movimentadas, de forma discernida ou insensatamente, voltam ou seu ponto de partida, ou seja, a quem as tenha movimentado. Só a superação do carma, a libertação total, cessaria, segundo essa tradição, os incessantes ciclos de renascimento e morte.
Desde as antigas escrituras Védicas, até os dias de hoje, temos revisitado esses ensinamentos, não somente no campo religioso e filosófico, porém, podemos identificar a aproximação com o próprio estudo da psicologia analítica. É bem verdade que C.G.Jung teceu muitos links entre a cultura e o simbolismo oriental e a construção da dinâmica do arquétipo. Mas também se deve considerar que a linguagem das antigas escrituras é repleta de simbolismos e, portanto, sem lhe suprimir o sentido essencial, permite uma leitura que a aproxime dos conceitos atuais. Todos nós somos movidos por desejos, medos ou aversões. Reações de amor ou ódio são diferentes respostas que damos às interferências que nossa individualidade enfrenta na realização dos nossos desejos ou projetos existenciais. O ponto comum a estas dualidades, positivas ou negativas, boas ou más é que sempre estão a movimentar energia. Compõem processos energéticos do interior da psique, que operaram tanto no inconsciente como entre este e a consciência. Dependendo da forma subjetiva com que cada pessoa responde à realidade, segundo as experiências e traumas vivenciados (no hinduísmo, inclusive em existências anteriores), temos emoções positivas e negativas, fascinações e projeções, o medo, o sentimento de subjugação do ego e, até mesmo, estados maníacos e depressão. Tudo isso conduz a padrões comportamentais e condicionamentos. Nesse sentido, o próprio sofrimento, atribuído, na tradição hinduísta, ao apego, advém de em um agir condicionado ou padrão comportamental. Aparece, então, transposta para os tempos atuais, a noção de carma: padrões comportamentais e condicionamentos que nos impedem de agir livremente na realização essência interior ou das nossas plenas potencialidades. Quando mencionamos processo energético, pressupõe-se que energias são realmente movimentadas. Mas como? Os sentimentos gerados a partir da nossa percepção sensorial podem corresponder a um agir condicionado, que também será percebido, de diversas formas, pelo meio externo, pessoas ou ambiente, e também gerará reações e conseqüências, seja ao autor do ato ou a outros. Pode ser também que determinado sentimento não gere ação, mas pode gerar efeitos internos naquele que o represou internamente, refletindo-se em sofrimento e eventualmente em doenças físicas e psíquicas. Esse movimentar de energias, ação e resultado, causa e efeito tece a teia das nossas existências, que nada mais é do que a interação de todos os seres nesse plano físico. A superação dos resultados ou efeitos que nos trazem sofrimento e a frustração de não realizarmos a nossa “essência”, “Eu interior” ou projeto existencial, somente ocorre pela libertação dos padrões comportamentais e condicionamentos, pela via do autoconhecimento. A meditação – aliada às posturas do yoga – auxilia na libertação dos padrões comportamentais e condicionamentos, pois altera o padrão das sinapses cerebrais, ativa o funcionamento de outras partes do cérebro e promove o estado de tranqüilidade capaz de desviar o foco das “questões” ou problemas, gerados pelo nosso modo de pensar condicionado. Com devido respeito a entendimentos contrários, não estamos nesse plano físico para sofrer. Sofremos em maior ou menos medida, proporcionalmente aos nossos condicionamentos e apegos. A nossa capacidade de discernimento confere-nos a extraordinária e infinita possibilidade de transformar nossas vidas e buscar nossa realização pessoal. Quebra-se aqui a “roda cármica”.
Professor Reneu Zoantto
Comments